
Em agosto de 2025, um vídeo publicado pelo youtuber e streamer Felca chamou a atenção de milhões de pessoas para um fenômeno preocupante: a adultização infantil nas redes sociais. O conteúdo, que rapidamente ultrapassou 26 milhões de visualizações, denunciou casos de exposição precoce e sexualização de crianças em plataformas digitais, destacando não apenas o comportamento de influenciadores, mas também o papel dos algoritmos na amplificação desse tipo de material.
A repercussão ultrapassou a esfera digital, chegando à imprensa nacional e ao Congresso, que anunciou a intenção de pautar projetos de lei para coibir a prática. Mais do que um episódio isolado, o caso abre espaço para discutir como tecnologia, cultura e legislação se cruzam nesse problema.
Mas, o que é adultização infantil?
O termo “adultização infantil” se refere à imposição de comportamentos, estéticas, linguagens e situações próprias do universo adulto a crianças e adolescentes. Isso pode ocorrer de forma sutil, como exemplo com roupas e maquiagens, ou de maneira explícita, com a indução de atitudes e posturas sexualizadas. Nas redes sociais, o fenômeno ganha dimensão global e veloz, potencializado pela lógica do engajamento.
O gatilho do debate: o vídeo de Felca
No vídeo publicado em suas redes, Felca apresentou casos específicos que ilustram a adultização infantil online:
- Exposição de menores em contextos sexualizados: danças, desafios e interações com teor adulto, muitas vezes estimuladas por influenciadores com grande alcance.
- Contato com conteúdo impróprio: menores expostos a ambientes com álcool e linguagem de conotação sexual.
- Ação do “algoritmo P”: termo usado pelo criador para se referir ao mecanismo de recomendação que, ao detectar interesse em vídeos de crianças, passa a sugerir conteúdos cada vez mais sexualizados.
Esses exemplos mostram que não se trata apenas de atos isolados de indivíduos, mas de um ecossistema que facilita e lucra com a exposição.
O papel dos algoritmos
Um dos pontos mais sensíveis levantados por Felca foi a atuação dos algoritmos de recomendação. Plataformas como Instagram, TikTok e YouTube são projetadas para reter usuários pelo máximo de tempo possível, identificando padrões de interesse e sugerindo conteúdos similares.
Quando a interação é com vídeos de crianças, mesmo em contextos aparentemente inofensivos, o sistema pode passar a recomendar conteúdos progressivamente mais sensíveis — criando um funil de exposição. Dessa forma, a dinâmica aumenta a vulnerabilidade dos menores e dificulta a detecção manual por parte dos moderadores.
A resposta política e institucional
A repercussão do vídeo levou o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, a anunciar a inclusão de projetos sobre o tema na pauta legislativa. Entre as possíveis medidas em discussão estão:
- Responsabilização das plataformas por falhas na moderação e na recomendação de conteúdo.
- Regras para presença de menores em produções digitais, incluindo autorizações e limites de horário e temática.
- Aumento da fiscalização por órgãos como o Ministério Público e Conselhos Tutelares.
Além da esfera legislativa, organizações de proteção à infância defendem o fortalecimento de políticas de educação digital e a capacitação de pais e responsáveis para identificar sinais de exploração.
Impactos sociais e culturais
O fenômeno da adultização infantil nas redes não é apenas um risco individual: ele influencia percepções culturais sobre infância, sexualidade e consumo. Crianças expostas precocemente a conteúdos e interações adultas podem:
- Internalizar padrões de comportamento incompatíveis com sua etapa de desenvolvimento.
- Tornar-se alvos mais fáceis para predadores sexuais online.
- Sofrer efeitos emocionais e psicológicos de longo prazo, como ansiedade, baixa autoestima e dificuldade de estabelecer limites.
Além disso, a popularização desse tipo de conteúdo também pode normalizar a sexualização precoce, enfraquecendo barreiras sociais que tradicionalmente protegiam a infância.
Desafios para o futuro
O combate à adultização infantil nas redes envolve uma série de desafios. Como por exemplo:
- Tecnológicos: desenvolver algoritmos capazes de diferenciar conteúdo legítimo de material prejudicial, sem prejuízo à liberdade de expressão.
- Legais: criar leis específicas para a realidade digital, que equilibrem proteção e autonomia.
- Culturais: promover uma mudança de percepção sobre o que é aceitável na exposição de crianças online.
- Educacionais: capacitar famílias e escolas para atuar de forma preventiva.
Em suma, o vídeo de Felca serviu como catalisador para uma discussão urgente. Mais do que denunciar casos pontuais, ele expôs falhas estruturais no funcionamento das redes sociais e na forma como a sociedade lida com a presença de crianças no ambiente digital.
Por fim, a partir de agora, a efetividade das respostas — políticas, tecnológicas e culturais — será determinante para proteger a infância no cenário hiperconectado.
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