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Empresas se preocupam com “epidemia de bets” no trabalho

Texto por Maria Luiza Dourado, em InfoMoney

Os jogos de azar, conhecidos popularmente como bets, têm impactado a vida dos funcionários em empresas de diversos segmentos. Ou seja, uma verdadeira “epidemia” está transformando apostas em uma suposta forma de investimento, gerando sérios problemas financeiros para os envolvidos. Dessa forma, um estudo inédito realizado pela Creditas Benefícios, em parceria com Wellz by Wellhub e Opinion Box, revela como essa tendência tem afetado o desempenho dos trabalhadores e a dinâmica corporativa.

Bets no ambiente de trabalho: uma preocupação crescente

De acordo com a pesquisa, que ouviu 405 profissionais de recursos humanos e gestores de médias e grandes empresas entre novembro e dezembro de 2024, 80% dos entrevistados acreditam que as apostas impactam negativamente o desempenho dos colaboradores. Além disso, 73% afirmam que o tema deve ser tratado internamente. No entanto, poucas empresas tomaram medidas concretas: apenas 6% relataram ter implementado ações para lidar com o problema.

Ou seja, apesar do reconhecimento do impacto das bets, a resposta corporativa ainda é tímida. Os dados apontam que:

  • 53% dos entrevistados afirmam que colaboradores enfrentam dificuldades financeiras devido às apostas.
  • 54% notaram que funcionários utilizam horários de descanso, como a pausa para o almoço, para jogar.
  • 56% acreditam que seus colaboradores enxergam as apostas como uma forma de investimento.

Além disso, quando questionados sobre a percepção do envolvimento dos funcionários com apostas, 47% relataram ter observado um aumento nos últimos anos, enquanto 20% disseram que o nível de envolvimento se manteve o mesmo. Apenas 4% acreditam que houve uma redução.

“É interessante notar que 20% dos entrevistados não souberam responder sobre a frequência das apostas entre os funcionários. Ou seja, muitos profissionais de RH e gestores estão distantes da realidade dos colaboradores, apesar de mais de 70% reconhecerem a importância do tema”, explica Felipe Schepers, diretor de operações do Opinion Box.

Bets e educação financeira: um tema pouco debatido

A pesquisa também revelou que as apostas esportivas são um dos temas menos discutidos dentro das empresas. Ou seja, o assunto ainda não recebe a devida atenção.

  • Apenas 6% das empresas mencionaram que já discutiram sobre bets.
  • Para efeito de comparação, temas como ergonomia (26%), educação financeira (30%), comunicação assertiva (31%) e gestão do tempo (37%) são mais abordados.
  • Já os temas mais populares entre os gestores foram liderança e saúde mental (60% cada), seguidos por plano de carreira (48%), diversidade (46%) e inteligência artificial (41%).

Dessa forma, a falta de discussões sobre apostas evidencia uma lacuna nas políticas empresariais, que pode contribuir para a normalização do problema.

O erro de não falar sobre o problema

A falta de atenção ao tema também se reflete na insatisfação dos gestores. Portanto, 29% dos entrevistados consideram que suas empresas não estão fazendo o suficiente para lidar com as bets e os impactos negativos que elas geram.

Embora 47% dos gestores acreditem que os funcionários têm consciência dos riscos das apostas, apenas 36% sentem que a liderança está preparada para lidar com o problema. Ou seja, existe uma contradição clara: os riscos das bets são reconhecidos, mas há pouca ação concreta para preveni-los.

“A alta capacidade de gerar dependência faz das apostas e jogos de azar – reconhecidos no DSM-5 como ‘Gambling Disorder’ – um problema sério de saúde mental. Dessa forma, pode levar a consequências extremas, incluindo o suicídio”, alerta Ines Hungerbühler, psicóloga PhD e Head de Estratégia Clínica do Wellz.

Além disso, do ponto de vista organizacional, os especialistas em gestão de pessoas destacam os principais impactos negativos das bets no ambiente de trabalho:

  • 66% apontam prejuízo à saúde mental e física dos colaboradores.
  • 59% observam queda de produtividade.
  • 51% relatam aumento da ansiedade entre os funcionários.

Ou seja, as apostas tanto são um fator gerador de ansiedade, quanto são utilizadas como uma forma de fuga para um quadro de ansiedade pré-existente. Dessa forma, um ciclo vicioso pode ser criado, afetando não apenas a produtividade, mas também as relações interpessoais e a satisfação dos funcionários com seus próprios salários.

Debater bets é debater educação financeira e saúde mental

Diante desse cenário, especialistas defendem que as empresas adotem uma abordagem mais proativa. Ou seja, abordar o tema abertamente e oferecer educação financeira são estratégias essenciais para mitigar os impactos das bets no ambiente corporativo.

“Essa pesquisa serve como um alerta para que as organizações comecem a tratar essa questão de forma mais estruturada. Dessa forma, ao implementar programas de educação financeira, que deixem claro que apostas não são investimentos nem uma segunda fonte de renda, as empresas podem ajudar a reduzir os riscos. Além disso, abrir um espaço para apoio psicológico e comunicação transparente pode tornar o ambiente de trabalho mais saudável e produtivo”, afirma Guilherme Casagrande, educador financeiro da Creditas.

Em suma, a conscientização sobre apostas deve ir além da simples proibição ou repressão. Ou seja, para lidar de maneira eficaz com a questão, as empresas precisam compreender o perfil social e econômico dos colaboradores e oferecer orientações personalizadas.

“A primeira conversa tradicionalmente acontece de maneira geral. No entanto, para ser realmente efetiva, essa abordagem precisa abrir espaço para um diálogo personalizado, que leve em conta a realidade de cada funcionário”, finaliza Ines Hungerbühler.

Fonte: Texto por Maria Luiza Dourado, em InfoMoney

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