O cinema nacional volta a ganhar fôlego e visibilidade internacional com O Agente Secreto, novo longa-metragem do pernambucano Kleber Mendonça Filho, que estreia nesta quinta-feira (6) em mais de 730 cinemas e 1.400 salas, distribuídos por 370 cidades brasileiras. Além disso, o lançamento ocorre de forma simultânea na Alemanha e em Portugal, marcando um movimento de retomada e expansão do audiovisual brasileiro no cenário global.
O filme já percorreu mais de 50 festivais ao redor do mundo e acumulou 20 prêmios, incluindo Melhor Direção e Melhor Ator (Wagner Moura) no Festival de Cannes. Dessa forma, O Agente Secreto tornou-se o representante oficial do Brasil na disputa pelo Oscar 2026, concorrendo à categoria Melhor Filme Internacional.
Um retrato sensorial do Brasil de 1977
A trama se passa em 1977, “um ano de muita birra”, como define a primeira frase do filme. A frase, provocativa, abre espaço para uma narrativa que mergulha na memória política e emocional do país, especialmente durante o período da ditadura militar.
A direção de arte e a fotografia constroem camadas sensoriais que transportam o espectador para a época: o barulho do orelhão, o ronco do fusca, a poeira quente que parece se acumular nos olhos e nos pulmões. Além disso, a trilha sonora é um elemento narrativo fundamental — como em todas as obras de Mendonça Filho.
A música como memória viva
Em entrevista à Agência Brasil, Mendonça destacou a importância de Paêbirú (1975), álbum de Zé Ramalho e Lula Côrtes, cuja presença é central no filme:
“Eu já escrevi o roteiro com duas músicas desse disco. Elas são muito impactantes, quase como se o próprio vinil respirasse dentro do filme.”
O diretor revelou ainda que, pela primeira vez, pode “discotecar seu próprio filme” sem limitações orçamentárias, afirmando que se trata de um sonho antigo realizado. Como desdobramento, será lançado um vinil duplo com a trilha sonora e um livro com o roteiro completo, pela Editora Record (Selo Amacor).
Wagner Moura: atuação premiada e possível indicação ao Oscar
Wagner Moura interpreta Marcelo, um professor de tecnologia que tenta reconstruir a vida em Recife, mas que carrega um passado marcado por violência e silêncio. Sua atuação rendeu o prêmio de Melhor Ator em Cannes e o coloca como um dos nomes cotados ao Oscar 2026.
Segundo Moura: “O filme fala de moral, verdade, poder e medo — temas que também aparecem no teatro e que me atravessam profundamente.”
Atualmente, o ator também está em cartaz com a peça “Um Julgamento: Depois do Inimigo do Povo”, inspirada em Ibsen.
Tânia Maria e Alice Carvalho: força e diversidade na tela
A atriz Tânia Maria emociona como Dona Sebastiana, personagem que acolhe refugiados em Recife. Sua interpretação tem sido apontada por veículos internacionais como Variety e The Hollywood Reporter como candidata ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante.
Já Alice Carvalho chama atenção ao destacar a importância da representatividade na produção:
“O público brasileiro sente o impacto de ver seus sotaques, rostos e histórias nas telas. Isso é o Brasil que existe e quer se ver representado.”
Expansão global e projeção internacional
Além do lançamento nacional expressivo, O Agente Secreto está garantido em mais de 90 países, incluindo China, Índia, México e Coreia do Sul. Assim, o filme não apenas fortalece o cinema brasileiro internamente, mas também reafirma sua relevância global.
O Agente Secreto é mais do que um filme: é um marco cultural, um exercício de memória histórica e uma afirmação de identidade brasileira. Com narrativa sensível, estética precisa e atuações de impacto, a obra fortalece a presença do Brasil no cenário cinematográfico internacional e reforça a importância de olhar para a nossa própria história para compreender quem somos.
Se você aprecia cinema que provoca reflexão, emoção e debate, este é um filme imperdível.
FONTE: Agência Brasil
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